domingo, 14 de junho de 2009

ANTRO DE PERDIÇÃO
"Numa ânsia tresloucada de lhe dar todo o prazer, parto em busca do seu segredo. Sob a leve pressão dos meus dedos a sua clitóride endurece. Deslizante, deslizo para um interior de um vaso repleto de sémen, que me engole viva. Oiço um longo gemido de satisfação. Só há um modo de responder: penetrar mais fundo. No mais recôndito lugar, eis que os meus dedos descobrem dios montinhos apartados por um vale.
Sem que o pressentisse, ela investiu com redobrado vigor dentro de mim. Ordenhando-me como a uma cabra no seu pasto favorito, todo o meu corpo, sacudido por águas diluvianas, estremecia com violência. Insolente, ela faz-me doer, mas a minha boca, enlouquecida, continua a dilatar-se.
Exausta, incapaz de fugir, imobilizo-me. Ela mexe, remexe; passeia-se num bosque às primeiras horas da manhã, quando o sol ainda é manso, em busca de improváveis espaços.
Enquanto quase me deixo matar, a minha amante deleita-se. Sem possibilidade de suportar mais as suas investidas sem me dissolver, imploro-lhe que se venha.
--- Fica quietinha --- diz-me ---, quero aproveitar ao máximo todo o prazer que me dás.
A seguir, consola-me: --- Está quase...
Passa uma eternidade. Os meus dedinhos, martirizados, começam a sentir minúsculas bolinhas: Nephentes contrai-se, aperta-me, afrouxa, torna a contrair-se, esmaga-me as falanges. Por fim, libertando um só e duradoiro grito de êxtase, a mulher pega-me no pulso e retira-me de dentro de si.
Tomada por um frenesi de fazer inveja ao Demo, revira-me e coloca o meu corpo ao seu jeito: a posição mais humilhante que conheço. Assim, de rabo espetado no ar, de olhos cerrados e incapaz de raciocinar, vejo-a extrair do seu âmago um favo de mel, com o qual me irriga, sarando as minhas feridas.
De súbito, partindo do clitóris, sinto uma descarga que se propaga em vagas de rítmicos espasmos. Todos os músculos do corpo se me retesam e numerosos estremeções me abalam. Um instante insuportável de assombrosas explosões atravessa-me em todos os sentidos. Lucrécia enfia a língua no meu ouvido e diz-me que quase lhe parto os dedos. Como uma cabrita a copular no alto de um penhasco, desfaço-me em puro gozo. Vou explodir em lava ardente nos confins do além-mundo.
Sob a pele, em chamas, o meu pobre coração bate descompassado e a língua enrola-se-me na boca. Sei que estive à beira da morte.
Devagar, muito lentamente, a bolha de ar quente que nos envolvia vai-se esboroando, dispondo-nos ao merecido repouso. Mas, consumindo-nos a carne em picadas intensas, o animal continua à espreita
Lá fora brilha o sol de Inverno."
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Lilith