quinta-feira, 29 de novembro de 2007

ILUSÃO


A palavra amor

cintila à solta

no meu coração.


Queria dizer-te:

Olha um pássaro amor.


Queria amar-te na Lua amor.


Palavra cativa

do meu peito em chamas


Sentença escorrida

do meu sangue em vagas


Sempre calada

a palavra amor

é pura mentira deste meu estupor.

domingo, 18 de novembro de 2007

O NASCIMENTO


Vivo num paraíso de águas cálidas. Quente e aconchegada nada me preocupa. Todas as minhas necessidades satisfeitas, não tenho outras.

Tudo me é dado, sem esforço existo. Sinto-me protegida e confiante.

Sou o centro do meu próprio universo, o meu mundo de águas cálidas. Habito uma bolha flutuante onde em constante movimento flutuo.

Estou no ventre materno.


Uf! Que é isto, que sucede? Espremida, comprimida, sugada, atirada contra as paredes de um corredor que me esmaga e empurra... aos solavancos... ugh...agh... que foi feito do meu mundo? Sinto dores intensas... vou rebentar de tanta dor... e esta ansiedade sufoca-me.


Anh?! Que luz é esta, uma chama tão intensa que me fere os olhos? Queima-me os nervos, alastra pela cabeça e percorre todo o meu corpo... De quem são estas mãos, geladas, que me puxam? E estas vozes? De quem são estas estranhas vozes que nunca antes ouvi? Agora estão a bater-me violentamente.... Molham-me... estou gelada, brrrrrrr...

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Ensino Superior


Diz Mariano Gago que as universidades da Europa estão a considerar a hipótese de os mestrados virem a ser exclusivamente leccionados em língua inglesa. Diz ainda que estão a pensar em trazer mais alunos para os mestrados. e há quem se alegre pelo facto de isso trazer mais competitividade ao ensino superior.

Está certo. Está tudo muito certo. Nós já sabemos que Portugal é um país atrasado e que o ensino superior não é para todos, mas torná-lo mais competitivo não será gerador de mais injustiça social? É que nem toda a a população estudantil das faculdades domina a língua inglesa. Há-os, mais velhos, que conhecem melhor o francês que o inglês. Será justo cavar mais ainda este fosso impeditivo de uma boa progressão nos estudos para aqueles que se expressam melhor em língua portuguesa?

Fernando Pessoa dizia que a Língua Portuguesa era a sua pátria, a minha também. E agora, já não posso fazer mestrado? Parece que alguém me quer cortar as pernas.

domingo, 23 de setembro de 2007

NOCTURNO


As ondas do mar

num eterno murmúrio

sibilam ao vento

promessas de amor

de uma feiticeira

que à noite se entrega


O cântico é doce

a Lua está prenhe

mas ao despertar

esse mar salgado

espraiado na areia

vê que ela o engana

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Teia


Como um fatal predador

que da presa se apodera

sem pressas ardes no fogo

da tua própria fogueira


Besta dos sete monstros

monstros de sete cabeças

cabeças de sete faces

animal enlouquecido

que a mim mesma aprisiona


Insecto na tua teia

em corpo transfigurado

de carne viva ultrajada

fora de mim se alevanta

uma força de alma pura

que lá longe se agiganta

Pretenso Amor


De mente ínsana

e pretenso amor

rebenta a paixão

rainha dos sentidos

senhora sem razão


Puta da imaginação!


Criatura do desejo

fuga dos sentidos

engenho com tenção

soberana sem sentido

e escrava sem razão


Puta da imaginação!

sábado, 25 de agosto de 2007

Olho e vejo a mulher entre as paredes de uma gruta, dentro de um útero. Húmido ,aconchegante, mansamente caliente. A mulher nua, despida de sonhos, expectante, mansamente expectante. As plantas, vivas, vivem do alimento das paredes da gruta, da seiva que nasce oculta e se derrama por elas. A mulher aguarda o momento de fuga do longo instante. Existe paz, dentro do útero, depois da sonhadora tortura que é para lá chegar.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

segunda-feira, 13 de agosto de 2007


Não sei onde meti o meu caderno de poesias.


SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO

A Costa da Caparica é única, no seu género. Fica a dois metros de Lisboa, que é como quem diz, basta passar a ponte, o que de moto até é muito bom.

Nove e meia da noite do início de Agosto: "Bora lá ver os bares das praias de São João?"

À saída da Via Rápida o carro, em vez de virar para a esquerda, sentido Fonte da Telha, guina para a direita, sentido Trafaria. A meio do percurso nova viragem à esquerda, são as ditas praias. Avista-se uma cancela e uma casinha/contentor com um segurança lá dentro. Ele pede dois euros e meio e em troca entrega um bilhete onde se pode ler que a empresa que explora aquele espaço não se responsabiliza por danos ou furtos nas viaturas de quem passe para lá da cancela. Segue-se por uma estrada mal construída e sem iluminação que se prolonga até uma clareira. Dali para a frente, esquerda ou direita, o piso é de terra batida e o breu impõe-se. Seguimos para o lado sul e paramos no primeiro bar. A construção é em madeira com os pilares a descoberto, bonita à primeira vista. Pelas janelas fechadas vê-se um casal sentado a uma mesa. Avançamos para a porta, pegamos na maçaneta e rodamos o pulso mas, está fechada?! Espreitamos de novo para o interior e está tudo na mesma. Damos a volta à casa e avistamos outra porta. "Ah, é por aqui". Executamos o mesmo processo, debalde. Tornamos a espreitar, sentindo-nos como intrusos em casa alheia, e voltamos para trás. Entretanto pensamos no dinheiro do parque e em como se está bem nas praias da Costa numa amena noite de Verão. "E se fôssemos ver aquele lá do fundo? Bora". Não ficava muito longe mas a noite era escura e pegámos no carro. circulámos alguns metros e deixámos de sentir terra firme, estávamos sobre areia. O carro começou a derrapar e nós a rezar. Enfim, safámo-nos. Conseguindo estacionar dirigimo-nos para outra casa nas dunas de construção semelhante. Nem um leve som de música, nem gente, nem nada, uma desolação. Decididas a vencer os obstáculos, avançamos para norte. Para lá da clareira um único bar aberto. Aberto? Isso pensávamos nós. Bem, faltava-nos ainda ir a um que ficava do outro lado. Acabámos por nos sentar a comer um hamburguer mal parido num sítio com dois grandes écrans onde se podia apreciar a luta de boxe. Muito giro.











sábado, 11 de agosto de 2007

Direcção Geral de Viação

Quem precisar de se dirigir à DGV de Lisboa vai deparar-se com o seguinte cenário:
uma sala apinhada de gente que aguarda, de senha na mão, pela sua vez de ser atendido. Ao cabo de duas ou três horas, a maior parte do tempo de pé (casa-de-banho não se vêm nem máquina de águas ou, simplesmente, de café), finalmente é chegada a sua vez. Uma brutamontes dos seus cinquenta e tal anos, anafada, que não se dá sequer ao trabalho de responder à saudação da tarde, pega nos nossos documentos e desata a escrever números não sem antes perguntar à colega do lado como se faz. Depois apercebe-se que faltam as fotocópias do BI e, com maus modos, pede-nos o cartão. Levanta-se, a custo, e lá vai ela com os gordos bracinhos a abanar, em direcção à fotocopiadora, que está literalmente a dois passos dali. Volta a sentar-se, a resmungar, e atira com o Bilhete de Identidade para cima da secretária. "Olha, ó colega, o que é que eu faço a isto? A colega responde que a outra colega é que sabe e diz-nos: Olhe, encoste-se ali um bocadinho (à parede) que a minha colega está ali a fazer uma coisa e já vem, tá bem? Que se há-de fazer? Está bem, está. E lá vamos nós encostar-nos à parede de antenas no ar não vá a tal colega, por alguma razão que nos ultrapassa, não aparecer. Finalmente a colega, talvez a chefe, pega nos papéis e dirigi-se a um terminal de computador, onde vê qualquer coisa que as outras duas supostamente não viram. "Não, esta carta não está cá, esta carta está em Setúbal; tem de tratar lá porque eles enviaram para lá a carta, não é aqui".

Conforme se pode ver por este excerto de um dia de Verão, a DGV está viva, bem de saúde, e recomenda-se.








segunda-feira, 6 de agosto de 2007


Debaixo da Lua o importante é o ser, em cada um de nós, ainda por nascer.



quarta-feira, 1 de agosto de 2007

DISTÂNCIA


É tarde meu amor

O sol já se pôs

E a Lua não voltou


É tarde meu amor

O desejo já veio

e tornou a partir


Para lá dessa artimanha

Há um mundo de magia

Onde eu quero acordar

Pela mão da poesia

sexta-feira, 27 de julho de 2007

QUEM DE ENTRE NÓS


Alguns de entre nós

Pobres mortais

Não sentem a alegria da partilha


Alguns de entre nós

Simples mortais

Não sentem a tristeza da partida


Soberbos distintos

Dos seres imortais

Habitam no mundo dos sós entre iguais

terça-feira, 24 de julho de 2007

O SERMÃO QUE JESUS CRISTO (NÃO) FEZ NA MONTANHA


Pai-nosso que estais no céu

Tão injusto para as mulheres

Santificado seja o vosso nome

Apesar do sangue derramado

Venha a nós o vosso reino

De poder infinito

Seja feita a vossa vontade

Mesmo cruel e mesquinha

Assim na terra como no céu


O pão-nosso de cada dia nos dai hoje

Para saciar o nosso apetite desenfreado

E perdoai as nossas ofensas

Pecados menores sem valor

Assim como nós perdoamos

Como se divinos fôssemos

A quem nos tem ofendido


E afastai-nos da tentação

De nos deixarmos seduzir

E livrai-nos de todo o mal

Como se possível fosse

Porque vosso é o reino

Que nós desejamos

E o poder e a glória

Que sem medida ambicionamos

Para todo o sempre

Aqui e agora


Amén

In Chalah



















domingo, 15 de julho de 2007

ENCANTAMENTO


Já não a esperava

Quando ela apareceu

Como um raio de sol

Em plena trovoada


Ó Deus que fazer

Perdi o manual não sei as instruções


Procuro nos livros

Matéria de ensino

Sem descobrir nada

Que indique o caminho


Percorro às cegas

Um trilho danado

E brado aos céus

Por ter-me encantado

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Lilith

Prima entre pares
Com Adão por companhia

Foi expulsa do paraíso
Pela sua rebeldia

Sucedeu-lhe Eva a submissa
Que Deus criou por covardia

segunda-feira, 9 de julho de 2007

AS HORAS

Dentro de um velho relógio
Está contida toda a história da minha vida


Chego da labuta lá p`rá meia-noite
E durmo pelas duas um sono profundo


Seis horas ressono até que pelas oito
Um pulo da cama já eu me levanto


Seria menos triste se nove dormisse
Mas chegando às dez já pensava só nas onze


Fazendo bem as contas sobravam-me outras tantas
Que podia aplicar nas minhas poupanças

sexta-feira, 6 de julho de 2007

NIRVANA


Ser planta ou folha

Ou árvore em flor

.

Ter uma vida pura

simples e loira

.

No Outono dos campos

Ou no estio das searas

.

Sob os ventos alísios

Ou o vento do Norte

.

Não ficar no tempo

Nem na morte

segunda-feira, 2 de julho de 2007

A OBRA DE SOPHIA



Em Creta Epidauro ou Atenas

No azul do céu ou recanto do jardim

A ver o mar na areia da praia

Deserta p`la madrugada.


Sempre igual continuamente

A busca do silêncio

Que há no fim das coisas

Do universo de humana terra


A permanente caneta entre os dedos atenta

Da mão que poisada sobre a lisura da mesa

Aguarda o chamado do grave instante


Dupla de contrários

A palavra vestida

Pela aguda consciência do exílio divino

De um mundo doravante dividido


Mundo que ignora a forma justa

Que há entre o céu e a terra.


Por isso se retira sem cessar

Para se ungir da forma pura dos deuses a falar

domingo, 1 de julho de 2007

Xiquita mamã


Ontem, pelas 9.30H da noite, a nossa yorkshire pariu uma cachorrinha. Ouvimos um choro de bebé e pusémo-nos em acção: álcool, tesoura, fio-dental, toalhas e água. Faltavam 15 m. para a meia-noite quando a Xiquita pariu o último da ninhada, um menino no meio de sete meninas, espectacular. Parecia uma sala de partos: corávamos o cordão umbilical, massajavamo-los com para activar a circulação sanguínea, refrescávamos a parturiente com uma toalha molhada, enfim, um verdadeiro trabalho conjunto para proporcionar o nascimento de oito cãezinhos do tamanho de um polegar. Agora resta prestar todos os cuidados à mistura com muito amor e carinho para que cresçam saudáveis e felizes, depois partirão cada um para o seu lar onde serão alegres e dedicados companheiros de miúdos e graúdos.

Não fomos à "Lesboa Party" mas fizémos uma festa, foi o máximo.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

SULPOESIS


Se eu soubesse poetar

Cantava um hino à poesia

Comedido ao madrugar

Leviano ao fim do dia

.

Verso pobre a entoar

Uma velha inspiração

Que logo ao despertar

Me retira a diversão

.

Como um pássaro sem asas

Ou um céu pobre de azul

Toda a minha vida passa

À beira de um outro sul

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Lisboa



Lisboa tem lábios de lua de noite ao luar
São lábios de vulva macia de púbis tingida
de sonho e de mar

Sem título


Lesmas baratas serpentes rastejam sob o mesmo ar
H2O meu amor não é mistério para ninguém.

A UMA PASSARINHA CIBERNAUTA


Num dia de musa ardente
Inventaste um lugar
Local de inspiração
De onde pias ao mundo

Não é lugar de vazio
Ou espaço de esquecimento
Coro de razões somente
Que não esquecem com o tempo
.
Aí não mora amargura
Ou algo que se aparente
Transpira só da alegria
De uma ave trepadora

Sem teres lido nem treslido
Assim tanto como alguns
Tens no entanto a vantagem
De saberes mais do que muitos

Lá não revelas quem és
A menos que isso te importe
E se o fizeres é talvez
Porque não temes a morte

Se tens urgência em dizer
O que vai na tua alma
É porque supões o amor
Nessa tua insular terra

Menina bem comportada
Não não o queiras ser
Levanta asas e voa
Voa voa até morreres